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quarta-feira, 6 de março de 2013

Capital Inicial


 Eu sei o que vocês devem estar pensando: "depois de todas aquelas bandas estranhas por que diabos o cara resolve falar de Capital Inicial"? Tem dois motivos principais:

1 - É Nacional
2 - Tem coisa boa por aí

Na ativa desde 1986, o som do Capital passou por algumas transformações nos primeiros anos e desde então adquiriu uma forma de pop rock bem estável.

Boa parte das letras do Capital Inicial tiveram um ou mais dedos de Renato Russo, finado vocalista do Legião Urbana. Nas palavras do próprio Dinho Ouro Preto no CD/DVD Ao Vivo da Banda para o Multishow, em 2008:

"Há muito tempo atrás numa terra distante, havia uma banda chamada 'Aborto Elétrico'" (...)

O "Aborto Elétrico" tinha integrantes que mais tarde se dispersariam em duas bandas: Legião Urbana e o próprio Capital Inicial. Parte das composições passaria a cada um dos lados nesse "divórcio musical", além de algumas canções terem interpretações comuns às duas bandas (como a clássica "Que País é Esse?").

O caso é que é muito comum ouvir, especialmente dos fãs do Legião, que (apesar da história comum), o Capital Inicial é inferior ao que o Legião foi, se não musicalmente, letristicamente. Esse é o ponto em que é preciso citar pelo menos 2 trabalhos do Capital Inicial, sem os dedos de Renato Russo, que realmente valem à pena pelas LETRAS: O álbum "Gig Ante" de 2004 e o atual "Das Kapital" de 2010.

As composições são da própria banda e letristicamente empregam um recurso muito similar ao que o Engenheiros do Hawaii usavam nas suas canções: boas doses de filosofia, jogos de palavras e referências a ditados populares e afins. De certa forma, algo nesse sentido já havia aparecido no trabalho de 2002, "Rosas e Vinho Tinto", mas acabou ofuscado pelo sucesso de "A Sua Maneira" (um cover da música "De Música Ligera" da banda argentina Soda Estereo).

Em "Gig Ante" temos destaque para "Instinto Selvagem" num grande manifesto de "vamos chutar o pau da barraca", "Respirar Você" com a melhor dica de todos os tempos pra esquecer uma dor de cotovelo: "vou fingir que nunca te vi, vou viver sem ter onde ir, até cansar de respirar você" (sério mesmo,funciona!), a sensacional "Não Olhe Pra Trás" com sua jogada lógica e pitadas de filosofia faz você pensar com frases como "se o que era errado ficou certo as coisas são como elas são" e "inteligência ficou cega de tanta informação" só perde (na minha opinião) pra "Insônia" (algo que eu já tive bastante) já que essa canção específica não se parece em nada que o Capital te há feito até hoje com um experimentalismo inusitado tanto na diferença instrumental quanto vocal (mal dá pra reconhecer que seja o Capital Inicial nessa música).

Em "Das Kapital", os jogos de lógica  à semelhança de "Não Olhe Pra Trás" continuam em "Vivendo e Aprendendo" e "Como se Sente?" com frases que lembram muito as composições do Engenheiros como "os dias são sempre iguais, o mesmo filme em todos os canais" e "sempre presente o medo de falar na frente dos outros o que ninguém quer escutar", além das tradicionais histórias de romance que toda banda brazuca não abre mão como em "Depois da meia-noite" (passamos muito tempo sentados na calçada falando e  não dizendo nada) e dilemas existenciais com uma pitada de romance em "Melhor".



Depois dessa matéria e de acompanhar um pouco mais do som e das letras do Capital Inicial eu não posso afirmar nem que o som nem que as letras pioraram, de fato, o que me parece é que a visibilidade da banda diminuiu. É comum que as  pessoas que tanto  falam do "auge" e da decadência do rock nacional sejam as mesmas pessoas que não acompanham os trabalhos das boas bandas ainda na ativa preferindo viver de passado. Apesar da era da internet o público ainda é levado pelos ventos da mídia. As boas bandas nacionais continuam boas, a mídia é que não liga muito pra elas.

Fontes:

Just keep rocking! \m/

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