Eu sei o que
vocês devem estar pensando: "depois de todas aquelas bandas estranhas por
que diabos o cara resolve falar de Capital Inicial"? Tem dois motivos
principais:
1 - É Nacional
2 - Tem coisa boa
por aí
Na ativa desde
1986, o som do Capital passou por algumas transformações nos primeiros anos e
desde então adquiriu uma forma de pop rock bem estável.
Boa parte das
letras do Capital Inicial tiveram um ou mais dedos de Renato Russo, finado
vocalista do Legião Urbana. Nas palavras do próprio Dinho Ouro Preto no CD/DVD
Ao Vivo da Banda para o Multishow, em 2008:
"Há muito
tempo atrás numa terra distante, havia uma banda chamada 'Aborto
Elétrico'" (...)
O "Aborto
Elétrico" tinha integrantes que mais tarde se dispersariam em duas bandas:
Legião Urbana e o próprio Capital Inicial. Parte das composições passaria a
cada um dos lados nesse "divórcio musical", além de algumas canções
terem interpretações comuns às duas bandas (como a clássica "Que País é
Esse?").
O caso é que é
muito comum ouvir, especialmente dos fãs do Legião, que (apesar da história
comum), o Capital Inicial é inferior ao que o Legião foi, se não musicalmente,
letristicamente. Esse é o ponto em que é preciso citar pelo menos 2 trabalhos
do Capital Inicial, sem os dedos de Renato Russo, que realmente valem à pena
pelas LETRAS: O álbum "Gig Ante" de 2004 e o atual "Das
Kapital" de 2010.
As composições
são da própria banda e letristicamente empregam um recurso muito similar ao que
o Engenheiros do Hawaii usavam nas suas canções: boas doses de filosofia, jogos
de palavras e referências a ditados populares e afins. De certa forma, algo
nesse sentido já havia aparecido no trabalho de 2002, "Rosas e Vinho
Tinto", mas acabou ofuscado pelo sucesso de "A Sua Maneira" (um
cover da música "De Música Ligera" da banda argentina Soda Estereo).
Em "Gig
Ante" temos destaque para "Instinto Selvagem" num grande
manifesto de "vamos chutar o pau da barraca", "Respirar
Você" com a melhor dica de todos os tempos pra esquecer uma dor de
cotovelo: "vou fingir que nunca te vi, vou viver sem ter onde ir, até
cansar de respirar você" (sério mesmo,funciona!), a sensacional "Não
Olhe Pra Trás" com sua jogada lógica e pitadas de filosofia faz você pensar
com frases como "se o que era errado ficou certo as coisas são como elas
são" e "inteligência ficou cega de tanta informação" só perde
(na minha opinião) pra "Insônia" (algo que eu já tive bastante) já
que essa canção específica não se parece em nada que o Capital te há feito até
hoje com um experimentalismo inusitado tanto na diferença instrumental quanto
vocal (mal dá pra reconhecer que seja o Capital Inicial nessa música).
Em "Das
Kapital", os jogos de lógica à
semelhança de "Não Olhe Pra Trás" continuam em "Vivendo e Aprendendo"
e "Como se Sente?" com frases que lembram muito as composições do
Engenheiros como "os dias são sempre iguais, o mesmo filme em todos os
canais" e "sempre presente o medo de falar na frente dos outros o que
ninguém quer escutar", além das tradicionais histórias de romance que toda
banda brazuca não abre mão como em "Depois da meia-noite" (passamos
muito tempo sentados na calçada falando e
não dizendo nada) e dilemas existenciais com uma pitada de romance em
"Melhor".
Depois dessa
matéria e de acompanhar um pouco mais do som e das letras do Capital Inicial eu
não posso afirmar nem que o som nem que as letras pioraram, de fato, o que me
parece é que a visibilidade da banda diminuiu. É comum que as pessoas que tanto falam do "auge" e da decadência do
rock nacional sejam as mesmas pessoas que não acompanham os trabalhos das boas
bandas ainda na ativa preferindo viver de passado. Apesar da era da internet o
público ainda é levado pelos ventos da mídia. As boas bandas nacionais
continuam boas, a mídia é que não liga muito pra elas.
Fontes:
Just keep rocking! \m/