Banda de Death Metal é tudo igual... Distorção crua, baixo, bateria, muita pancada e um vocal urrado definido como gutural que sai sempre igual fazendo a mesma droga de nota independente se você é a gracinha da Angela Gossow (vocal do Arch Enemy) ou o próprio cão dos infernos fazendo gargarejo, certo? Bom... Há controvérsias.
Pra começar, depois de um tempo ouvindo
Death Metal a gente começa a perceber alguma melodia no meio daquele
pandemônio. Quando se ouve bandas de Death diferentes a gente nota que existem
variações vocais tão características quanto os próprios timbre cantados.
Como a diferença é sutil e você tem que ser
muito troll ou ter ouvido absoluto (ou os dois) pra perceber a gente acaba
ouvindo críticas ao estilo como as que citei.
O engraçado é que há sim bandas de death
tradicionais (já que o chamado "Death Melódico" é um outro estilo)
que soam diferente do geral e qualquer um pode perceber. Um dos (poucos)
exemplos que foge à regra é o Inversion.
É provável que você nunca tenha ouvido
falar deles, afinal, os caras resolveram tocar nos tempos de faculdade como
hobby e não com aspirações a fama. A curta carreira rendeu 2 cds: o EP de estréia chamado "Tarsus Burning" de 1999 e um épico álbum de nome "The Nature of Depravity", lançado em 2001.
Os guturais são "macios"
comparado às bandas de Death Metal comuns, a guitarra é impecável e 5 canções
da banda chamam a atenção para seu experimentalismo dentro do Death Meta, você pode ouvir TODAS na playlist acima pelo YouTube:
1. Thieves - uma canção sobre o
arrependimento de Dimas (um dos ladrões crucificados com Cristo) que é
praticamente um death acústico cantado em dueto pelo vocalista (guturais) e
pelo guitarrista do Inversion embalados por um acompanhamento de violão
perfeito;
2. Defilement - Death Metal veloz ao melhor
estilo "porrada" com muito destaque de baixo e bateria;
3. Independency - Um dueto com participação
do vocalista da banda australiana de Doom Metal "Paramaecium"
(resenha em breve) com direito a alguns floreios de piano ao fundo;
4. Stillborn Piety - Um Death com ares de
música medievalista soturno com piano de fundo e uma finalização bastante
estranha e original aos ouvidos;
5. Upheld - Mais experimentalismo! A canção
se inicia com um solo de violão com uma bela introdução cantada, torna-se um
Death Metal lento (sim, isso existe), denso e escuro para seguir com um
intercurso mórbido, retomar o peso original e termina com a mesma melodia de
início, dando um tom de melancolia ao final.
Não é que outras bandas de Death Metal não
usem algum experimentalismo HOJE, mas no final dos anos 90 e início dos anos
2000, uma banda desse gênero se aventurar com flertes com piano, música
medievalista, doom e acústicos, usando trechos cantados e um gutural que não
soa "rasgado" era uma experiência única e muito do que hoje é chamado
"Death Melódico" soa próximo demais do Metalcore, que caiu no gosto
de muitos headbangers e, de certa forma, saturou o metal, deixando a sonoridade
limitada a variações dentro do próprio estilo.
Em tempos de estilos iguais, Inversion era
e continua sendo diferente, ora soando como um terremoto veloz, ora como um
doom/death, e intercursos vocais cantados que, apesar de sombrios, não lembram
nem os vocais graves do doom e do black metal nórdico nem os melodramáticos
ataques vocais em tons altos presentes no Metalcore.
Inversion durou pouco, mas acabou virando
cult. Pra quem deseja saber mais sobre a banda, segue AQUI um dos poucos links sobre a banda, que é justamente uma entrevista com os integrantes sobre sua música e letras, sempre densamente permeadas por questões filosóficas e teológicas. Bom pra ouvir e bom
pra pensar: mais um ponto em que o Inversion fez diferente da maioria no Death
Metal.